domingo, 1 de janeiro de 2012

O que é, afinal, Estudos Culturais?









Como minha primeira dica de leitura trago o livro O que é, afinal estudos culturais? Que  traz um conjunto de três ensaios, organizados pelo Tomaz Silva, sobre os Estudos Culturais, sua história, seu objeto de estudos, as metodologias que usa e sua evolução, sob a luz dos estudos que se tornaram referência para a área do conhecimento, que hoje é conhecida como Estudos Culturais.

Acho que esse livro é uma boa leitura, embora que traga apenas uma visão sem grande profundidade nos Estudos Culturais, tenho lembrado muito desse livro enquanto estou no facebook e vejo muitas imagens discriminatórias com relação ao funk, dizendo que funkeiro não tem cultura, entre outras coisas.

E um dos pontos chaves dos estudos sobre culturas é a mudança do conceito da própria cultura, onde antigamente era visto como o mais belo e produzido por alguém ou alguma sociedade e numa visão moderna é aceito o conceito de cultura como o produto de diversas práticas sociais. Então dentre as muitas coisas que o livro nos ensina, ele nos ensina a respeitar as diferenças e a não hierarquizar as culturas.

Bem, feitas essas considerações vamos agora dissecar o livro! O primeiro ensaio “O que é, afinal, Estudos Culturais”, também dá nome ao livro, escrito por Richard Johnson. Esse ensaio, o mais denso de todo o livro, aduz sobre a evolução dos Estudos Culturais, vendo-o como um movimento ou uma rede, tem como uma de suas mais fortes raízes os estudos da crítica literária, mas estabelece fortes relações com a Sociologia, a História, a Comunicação, entre outras.

O autor define ponto fundamental para a realização dos Estudos Culturais a crítica, que em virtude da sua abertura e versatilidade teórica, “apropria-se dos elementos mais úteis, rejeitando o resto” (p. 10). E é justamente a crítica feita ao marxismo que o autor descreve como uma das características mais forte dos Estudos Culturais.

É dedica grande atenção a criação de estratégias para uma definição, além da própria definição do que seria os Estudos Culturais, embora o autor conclua dizendo quem não seria vantajoso uma definição única. O autor segue explorando todos os fatores que influem no projeto, e realização, dos Estudos Culturais como a questão da abstração e subjetividade, as teorias, publicações, as formas de cultura, nesse ponto é salientada a importância da pesquisa de campo para os Estudos Culturais.

Ponto que merece especial atenção é quando o autor analisa as relações de poder, a predileção por determinados temas e a exclusão de outros. Ao longo do ensaio são apresentados muitos conceitos, que se mostram bastante complexo, o que junto aos exemplos, às vezes demasiados longos, dificulta a compreensão do texto.

Interessante como o autor vê os pesquisadores dos Estudos Culturais como leitores da sociedade, ponto que evidência a importância da etnografia para os Estudos Culturais.
O segundo ensaio é o da Ana Carolina Escosteguy, “Estudos Culturais: uma introdução”, no primeiro momento do texto a autora deixa claro que o objetivo do ensaio é o de apresentar a tradição dos Estudos Culturais.

Os Estudos Culturais nascem na Inglaterra, “sob o ponto de vista político, os Estudos Culturais podem ser vistos como sinônimo de ‘correção política’, podendo ser identificados como a política cultural dos vários movimentos sociais da época de seu surgimento” (p. 137), em todo o momento a imagem dos Estudos Culturais é de um movimento politizado.

Um marco para os Estudos Culturais é a criação do Center for Contemporary Cultural Studies – CCCS, por Richard Hoggart em 1964. A autroa cita, sem se aprofundar muito, três trabalhos como o alicerce dos Estudos Culturais, são eles: The uses of literacy (Richard Hoggart). Culture and society (Raymond Williams), The making of  the english woking-glass (E. P. Thompson).

A autora segue voltando sua atenção para o deslocamento feito pelo Estudo Culturais, como dos eixos de pesquisa, o próprio deslocamento geográfica, mas salientamos como mai importante o deslocamento do termo Cultura, que passa a ser visto como qualquer prática social.

Na conclusão do ensaio a autora reflete sobre a internacionalização dos Estudos e, por conseqüência, e surgimento de novos eixos de pesquisa, com, a pós-modernidade “Nova Era”, globalização, a força de migrações e papel do Estado-nação e da cultura nacional e suas repercussões sobre o processo de construção das identidades.

O último ensaio é “O Center for Contemporary Cultural Studies (CCCS) da Universidade de Birmingham: uma história intelectual”, escrito pela Norma Schulman. Este traz a história do CCCS através da visão dos estudos que exerceram (e ainda exercem) grande influência no pensar em Estudos Culturais.

O Centro nasce sob a direção de Richard Hoggart, que salienta que os Estudos Culturais, embora traga muito de outras disciplinas, constitui uma nova disciplina acadêmica. Que com seu objeto de estudo entra em conflito do o pensamento da elite.

É dedicado um breve espaço para falar sobre as origens de Richar Hoggart e Raymond Williams, e os pontos compartilhados por ambos na visão acadêmica.

A autor dedica grande parte de sua atenção aos “atritos” gerados pelos Estudo culturais, primeiro em dissonância com o pensamento da elite acadêmica, a resistência da Sociologia em aceitar os Estudos Culturais, por medo de perder seu espaço, e também a ruptura com a os Estudos Literários.

A autora firma dois momentos do CCCS a respeito da visão, no primeiro (década de 60), o foco era na reinterpretação marxista. No segundo momento (sob a direção de Hall) o foco passa a ser a cultura como espaço de resistência e conflito potencial.

Sob a direção de Stuart Hall o CCCS caminha rumo a uma convergência no pensamento e objeto de estudos com os estudos da área da Comunicação, em sua relação com a cultura de massa.

Um pouco mais adiante a autora retoma a criação dos Estudos Culturais ao falar do surgimento da Nova Esquerda, “um movimento político fortemente socialista, antiimperialista e anti-racista, favorável à nacionalização das principais indústrias e da abolição do privilégio econômico e social” (p. 186). E também algumas publicações como a revista New Left Review tem fundamental importância para a consolidação e a disseminação dos Estudos Culturais.

Uma visão interessante que a autora traz, é acerca de alguns problemas enfrentados pelo CCCS, como a resumida equipe docente, além de problemas financeiros e a possível assimilação pelo Departamento de Literatura da Universidade de Birmingham.

O texto é concluído de forma instigante, quando a autora, aduz sobre do movimento feminista e as questões de raça, e pergunta: Qual é o peso que se deve atribuir às questões de classe, gênero, e raça?

Por tratar-se de um estudo introdutório, como complemento aos ensaios, são trazidos no fim do livro uma bibliografia de documentos em suporte tradicional e também uma de sites relacionados aos Estudos Culturais, que abrem os caminhos para o leitor que deseja se aprofundar na área.


SILVA, Tomaz Tadeu da. [Org.]. O que é, afinal, Estudos Cultarais? Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 

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